domingo, 20 de junho de 2010

Asma, uma doença neglicenciada

Álvaro A. Cruz

Membro do Comitê Executivo da Iniciativa Global contra a Asma (GINA)

Fundador do ProAR - Bahia





A asma é a doença crônica mais comum entre crianças, adolescentes e adultos jovens no Brasil. Lamentavelmente, está longe de receber a devida atenção da população e do Sistema Único de Saúde (SUS). Uma em cada cinco crianças brasileiras têm sintomas de asma, em geral “falta de ar” e chiado recorrentes, e vivenciam a torturante sensação de sufocação repetida com suas consequências somáticas e psíquicas. É possível controlar a asma com opções simples e seguras de tratamento, que podem ser disponibilizadas pelo SUS, entretanto ainda morrem cerca de 3.000 brasileiros por asma a cada ano, dos quais 200 são crianças de 1 a 14 anos. As mortes são passíveis de prevenção, mas é preciso levar a sério a asma e capacitar a todos os profissionais de saúde para o controle da doença e de suas exacerbações ou crises.

Felizmente existem iniciativas de especialistas em vários municípios, que com o apoio do SUS trazem enorme alívio aos que não conseguem respirar bem em consequência da asma. O Programa para o Controle da Asma da Bahia (ProAR) demonstra que é possível controlar a asma e reduzir drasticamente as hospitalizações (74% em 3 anos) com enorme economia, em Salvador. Resultados favoráveis têm sido obtidos também em Feira de Santana (ProAR-FS) e em outras cidades brasileiros. É preciso estender o benefício dessas iniciativas exitosas a toda a população do país, usando as evidências geradas pelo seu trabalho para informar decisões políticas e melhorar as práticas em saúde pública.

As doenças crônicas causam 60% das mortes no mundo, enorme proporção de incapacidade e custos elevados para as famílias e para o sistema de saúde, constituindo uma grave ameaça para o desenvolvimento nos países de renda média ou baixa. A Assembléia Mundial da Saúde em 2008, com representantes de 193 países, aprovou plano de ação da Organização Mundial da Saúde para o combate às doenças crônicas (cardiovasculares, câncer, respiratórias e diabetes). Há uma notável mobilização para a disseminação de informações sobre o tema. No dia 13 de maio de 2010 a Assembléia da ONU aprovou uma resolução que convoca uma sessão especial, com a presença de chefes de estado e de governo, para discutir este problema que afeta a todos, sem distição, mas sobrecarrega particularmente as famílias de baixa renda, que têm a sua capacidade de trabalho reduzida e suas despesas com a saúde aumentadas.

É preciso um multirão para recuperar o tempo perdido e controlar a asma no Brasil, investindo em estudos que gerem conhecimento para a prevenção, em nosso meio, e na implementação de práticas comprovadamente efetivas, em larga escala. Acaba de chegar ao nosso país a Iniciativa Global contra a Asma (GINA – www.ginabrasil.com.br), uma Ong internacional que propõe a meta de redução das hospitalizações por asma em 50% até 2015, oferecendo ao SUS o apoio voluntário de 100 dos maiores especialistas brasileiros e de vários experts internacionais para o esforço de capacitação de suas equipes.

3 comentários:

Unknown disse...

Alvaro,
você apresenta com muita clareza o problema "Asma e Saúde Pública". Os esforços dos profissionais se multiplicam em todo o país mas o silêncio dos gestores nos ensurdece.

Renata Calsaverini Leal disse...

Prezado Dr. Álvaro,

Foi com grande satisfação que soube, em meio as minhas pesquisas, que a iniciativa Global contra a Asma acaba de chegar ao Brasil. Fico na expectativa de novos horizontes e certamente disponível para colaborar.

meus parabéns,

Renata Calsaverini Leal
Coordenadora do Programa "Escola da Asma"
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto

Renata Calsaverini Leal disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.